Neste 22 de março, Dia Mundial da Água, o debate sobre a preservação dos recursos hídricos se amplia. O deputado federal Daniel Barbosa escreveu um artigo sobre o tema intitulado “O Dia Mundial da Água e a Esquizofrenia Global”, onde faz um balanço histórico sobre o movimento mundial em defesa da água.


No texto, o parlamentar alagoano também fala sobre a importância de se agir em conjunto para que sejam adotadas medidas para solucionar as desordens ambientais.


Confira o artigo na íntegra abaixo:


­O DIA MUNDIAL DA ÁGUA E A ESQUIZOFRENIA GLOBAL


Daniel Barbosa


Em 1972 um estudo científico advertiu que o futuro da humanidade estava seriamente ameaçado. O Relatório Meadows concluiu que o crescimento tem seus limites nos recursos naturais e, se nada fosse feito para racionalizar o modelo de sociedade vigente, o planeta entraria em colapso no prazo de cem anos. Pela primeira vez a sustentabilidade era posta em debate.


Passados vinte anos, em junho de 1992, a cidade do Rio de Janeiro sediou a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92). Dela participaram 178 países. A poluição desenfreada nos rios e na atmosfera, as secas e as florestas destruídas pelo desmatamento, pelo fogo e pela chuva ácida estavam na pauta. Era preciso salvar a humanidade do desastre anunciado.


Essa conferência gerou um importante documento denominado Agenda 21 Global, propondo ações conjuntas para enfrentamento das crises climáticas e energéticas. Projetou-se um modelo de desenvolvimento sustentável para o Século XXI. No dia 22 de março de 1992 foi divulgada a Declaração Universal dos Direitos da Água e em 1993 a data de 22 de março foi instituída como o Dia Mundial da Água, substância essencial à sobrevivência das espécies.


A fábula do beija-flor foi escolhida pela ONU para ilustrar o tema de discussão no Dia Mundial da Água de 2023: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Nela, o minúsculo passarinho faz a sua parte tentando apagar o incêndio na floresta, enquanto os outros animais estão à beira do fogo olhando para as chamas. 


O Brasil tem uma grande responsabilidade nesse esforço global porque suas reservas de água doce são imensas. Porém, o país acumulou problemas pela falta de cuidado na conservação desse patrimônio, principalmente nos últimos quatro anos. Trata-se de uma questão complexa que exige solução urgente e depende de diálogos permanentes entre economia, educação, direito, tecnologia, sociedade e política. 


O momento histórico demanda união em favor da vida, da educação e da paz. É a humanidade que degrada o meio ambiente e apenas ela pode solucionar as encrencas que criou. O mundo não pode continuar a se comportar como se nada estivesse acontecendo, numa espécie de esquizofrenia coletiva. 


Relatório científico divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática das Nações Unidas demonstra que o aquecimento global afeta ecossistemas em todo o planeta. O estudo, que é novo, reforça a necessidade da transição energética com justiça social, respeitando as particularidades de cada bioma. Medidas urgentes devem ser tomadas, tais como substituir os combustíveis fósseis, estimular a agricultura de baixo carbono, proibir o fracking e cortar subsídios ao petróleo. 


Bem debaixo dos nossos olhos os desastres ecológicos denunciam que o desequilíbrio climático atingiu níveis inaceitáveis e produz tragédias. Nesse contexto Alagoas também sofre. Sofre com o afundamento de quatro bairros na capital, causado pela exploração de sal-gema. Sofre com a seca e a crônica falta d’água, mesmo com tantos rios e lagoas. Sofre com a falta de saneamento básico. Sofre com o abandono do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba e com os dejetos lançados nos rios Paraíba e Mundaú. 


São situações graves que afligem a população, especialmente a mais pobre. As três esferas de governo – federal, estadual e municipal – devem agir em conjunto e adotar, no âmbito de suas competências, medidas efetivas para solucionar essas desordens ambientais. Na Câmara dos Deputados vou acompanhar, propor e defender projetos que prestigiem a sustentabilidade. Estou sempre à disposição de Alagoas, nessa e em quaisquer outras questões.


No que diz respeito ao Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba, poderia ser criado o Comitê da Bacia do Rio Paraíba e do Rio Mundaú, integrado por representantes do poder público, da sociedade civil e empresas usuárias de água, a fim de proteger os mananciais e contribuir para o desenvolvimento sustentável. Também é essencial fiscalizar e punir exemplarmente quem usa as lagoas como depósito de lixo. 


Outro ponto fundamental é criar condições para garantir saneamento básico e a dignidade de água potável na torneira a todos, por meio de barragens, açudes e/ou adutoras. Os caminhões-pipa são importantes para socorrer a população afetada pela estiagem ou pela seca, mas devem ser usados apenas em situações emergenciais e cada vez menos. 


Arapiraca tem a sua Agenda 21, cuja elaboração teve a participação de diversos segmentos da comunidade. É irrevogável e responsabilidade de gestão. Luciano Barbosa, que governa o município pela terceira vez com ampla aprovação popular, tem plena consciência da importância da sustentabilidade e vem adotando, desde o primeiro mandato, políticas públicas que respeitam e promovem o desenvolvimento responsável. 


A sustentabilidade é a única saída para preservar os recursos naturais. Não existe outro caminho nem espaço para a ganância que destrói a natureza e tanto mal faz ao planeta. A intervenção humana nos ecossistemas precisa ser racional e sabemos que superar dificuldades dessa dimensão não é tarefa simples. 


Pegando carona na sábia advertência do célebre escritor espanhol Baltasar Gracián, vamos unir os nossos melhores esforços para vencer a impossibilidade. Vamos fazer a nossa parte nessa luta para proteger o planeta e as gerações futuras, ameaçadas pelo egoísmo e pela ignorância. Vamos ser a mudança que queremos ver no mundo.