No cenário político entre aliados palacianos, a ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na cerimônia que marcou o primeiro aniversário dos ataques de 8 de janeiro, foi interpretada como um sinal de descontentamento, adquirindo ares de boicote ao evento que se transformou em um palanque para o presidente Lula. Do lado de Lira, a versão apresentada é de que o boicote, na verdade, partiu do Palácio do Planalto.

A organização do evento, segundo fontes próximas, teve a participação ativa da primeira-dama Janja, desde as definições centrais até a composição do palco, passando pela escolha das autoridades que discursariam. Janja, inclusive, teria batizado inicialmente o evento como “Democracia Restaurada”, mas reconsiderou, evitando conotações sobre a restauração do regime democrático. O ato foi então nomeado como “Democracia Inabalada”.

Detalhes como a omissão do nome de Lira no convite e a ausência de referências a ele no vídeo divulgado durante a cerimônia chamaram a atenção. O material registra os pronunciamentos de Lula, Rodrigo Pacheco e da então presidente do STF, Rosa Weber. Mesmo a Câmara sendo acionada para fornecer imagens dos ataques, não foi considerada a inclusão de declarações feitas por Lira, que repudiou os ataques no plenário no dia seguinte à destruição.

A cerimônia, conforme reportagem de VEJA, evidenciou um caráter político, com o presidente Lula utilizando a ocasião para atacar seus adversários, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, e elogiar seu próprio governo. Antes do evento, a governadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, foi escolhida por Janja para abrir os discursos, sinalizando mais um evento de governo do que de Estado. Fiel aliada de Lula, a petista cobrou “devida punição” aos responsáveis pelos ataques à democracia, encerrando com o bordão “Sem anistia”.

Lira, que era aliado do ex-presidente, buscando manter laços com partidos independentes e de oposição ao governo na Câmara, planejava discursar no evento. No entanto, na noite anterior, o deputado alagoano ligou para Lula informando sobre um problema de saúde na família, justificando sua ausência. Embora o problema de saúde seja genuíno, fica claro que não é o único motivo para a decisão de Lira.
Fonte – Extra